“São temas que a gente realmente não trabalha”
concepções de uma equipe diretiva sobre as relações de gênero
Resumo
O estudo teve como objetivo analisar as concepções de uma equipe diretiva sobre as relações de gênero e seus efeitos no contexto de uma região com alto índice de denúncias de ameaças vividas por mulheres. Metodologicamente, foi identificada uma escola localizada nas imediações de zonas críticas de denúncias de ameaça, por meio do mapeamento da violência no Município de Novo Hamburgo. Na sequência, foi realizada uma entrevista semiestruturada com a equipe diretiva da escola parceira. As entrevistadas demonstraram estranhamento em relação aos dados sobre violência na região, embora tenham conseguido relatar algumas ocasiões envolvendo a comunidade escolar. Elas atribuíram à falta de estrutura familiar, às práticas de drogadição e à falta de religiosidade as causas da violência vivida pelas mulheres. Aparentemente naturalizadas no cotidiano escolar, as questões de gênero, para as professoras colaboradoras da pesquisa, são invisíveis e invisibilizadas. Assim, os jogos, as brincadeiras e demais práticas pedagógicas são descritos como isentos de qualquer influência que possa produzir ensinamentos sobre expectativas de gênero e seus efeitos na coerção das condutas dos sujeitos naquela escola. Em um contexto de ofensiva antigênero, a equipe diretiva da escola parceira parece não atribuir significado a gênero e sexualidade como um campo de disputas, o que tem produzido um conjunto de investimentos pedagógicos que reiteram a heteronormatividade e as identidades normativas de gênero.
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